Saúde da População do Campo e Negra de Bezerros

Durante o mês de fevereiro tive a oportunidade de realizar o estágio estratégico da Residência Multiprofissional de Saúde da Família com Ênfase nas populações do Campo – Universidade de Pernambuco (UPE), na AFABE. Enquanto profissional de saúde e pertencente à zona rural desse município (Sapucarana), não teria melhor local para conhecer e discutir a realidade da população do campo de Bezerros que não fosse a AFABE, considerando a sua história e os serviços prestados às comunidades rurais por essa associação, nos seus quase 30 anos.

Diante dessa oportunidade questiono: Você sabia que Bezerros tem quilombo reconhecido pela Fundação Palmares? Sabia que temos população ribeirinha e vários assentamentos rurais? Sem falar do vasto território rural que abrange toda a cidade. Diante dessas questões trago outras inquietações que dão sentido a esse texto: O SUS está chegando às populações do campo de Bezerros? O município conhece a realidade e as reais demandas da população rural? O que o Controle Social tem feito para defender essas bandeiras?

A tentativa de responder aos questionamentos nos leva à discussão da questão agrária brasileira, considerando as desigualdades sociais estruturais e dificuldade de acesso das populações do campo, que fragilizam o acesso a vários direitos, sendo a saúde um deles. Diante disso, várias lutas e discussões foram realizadas nacionalmente em prol da criação de políticas que contemplem as demandas dessas populações, resultando assim a: Política Nacional de Saúde Integral à Saúde da População do Campo e Floresta (2013) e Política Nacional de Atenção Integral à Saúde da População Negra (2009).

Para garantir a efetivação dessas políticas, outras precisam caminhar em conjunto, como é o caso dos Núcleos de Apoio a Saúde da Família- NASF que existiam no município, mas desde dezembro houve o desligamento das duas equipes. Diante disso, destacamos que essa decisão traz impactos negativos a toda à população, principalmente a população do campo, além de mostrar os reais interesses das gestões municipais. Por isso, enfatizamos que DEFENDER O NASF É DEFENDER O SUS E AS POPULAÇÕES DO CAMPO.

As políticas mencionadas anteriormente, existem nacionalmente e precisam ser implementadas a nível municipal para garantir de fato o princípio de equidade no SUS. Essa discussão começou a ser feita no Conselho Municipal de Saúde a partir da AFABE, de forma que encaminhamos na ultima reunião a proposta à Secretaria de Saúde de criação de um Grupo de Trabalho – GT na Atenção Básica da Política de Saúde da População do Campo e Negra, em prol de fomentar a discussão e futuramente criar a política no município. Também encaminhamos a retomada das equipes NASF seguindo os princípios de sua criação e fortalecendo à Estratégia de Saúde da Família com uma perspectiva de saúde integral. Além dessas defesas destacamos aqui a importância do fortalecimento da agricultura familiar e da agroecologia enquanto promotoras de saúde, do povo do campo e da cidade.

A defesa dessas bandeiras precisa ser feita urgentemente para que possamos de fato ter uma saúde para o povo e com o povo. Venha com a AFABE defender estas bandeiras!