Sem Carnaval, Sem Renda

Bezerros, a Terra do Papangu, é reconhecido como o terceiro maior polo carnavalesco de Pernambuco e o maior do interior do estado. Para a grande maioria da população, o carnaval é apenas um momento de lazer, de diversão, de extravasar, mas para os bezerrenses o carnaval é o momento de reencontrar os papangus: os carismáticos mascarados que saem as ruas ou na área rural, desafiando as pessoas a descobrirem sua identidade. E para aquelas pessoas que ajudam a compor a fantasia do papangu, o artesão que faz a máscara, a costureira que fez a cafta (vestimenta tradicional do papangu), a vendedora de adereços que vendeu um par de luvas, a pessoa que vendeu um par de tênis, para o músico que toca na orquestra de frevo, ou canta no palco para alegrar o papangu, ou vende a bebida e a comida para o papangu, o que é o carnaval? O carnaval é geração de emprego e renda.Mas não é só de fornecer o que o papangu precisa que muita gente consegue uma renda extra no carnaval, e digo mais, não é apenas por um período. Para o artesão, que produz máscaras de papangu e artesanatos baseados nas máscaras, o carnaval é tema que gera renda o ano todo. Por esse Brasil á fora, centenas de milhares de pessoas, desde artistas a ambulantes, passando por técnicos de som a catadores de latinhas, dependem da renda gerada no carnaval. É a chamada Cadeia Produtiva Cultural do Ciclo Carnavalesco que neste ano, devido à pandemia causada pelo covid-19, não aconteceu. A ausência da festividade provocou uma ferida terrível, aumentando ainda mais o sofrimento dos menos favorecidos que já passavam privações econômicas, e agora terão que se virar durante o resto do ano sem um dinheiro que era tido como certo, se não fosse à pandemia.

Pouquíssimas cidades estão conseguindo dar, na forma de auxílio emergencial, algum dinheiro para essas pessoas, mas nem de longe contempla a todos os envolvidos ou consegue suprir a necessidade de fato. Tudo isso só revela a precariedade das nossas parcas políticas públicas culturais, que as pessoas da cadeia produtiva cultural não têm um plano ‘B’, geralmente não têm seu negócio ou profissão formalizada e muitos não sabem o que é seguridade social.

E está muito claro que as pessoas da cadeia produtiva cultural não buscarão ter direitos ou serem contemplados por ações do tipo, por que muitos nem sabem que existem essa possibilidade. Por isso, a importância dessas pessoas estarem alinhadas com um grupo, um coletivo ou associação. Participando de uma associação, mesmo que não seja específica da sua classe, mas que ao menos seja sócio-cultural como a AFABE – Associação dos Filhos e Amigos de Bezerros, essa pessoa não se sentirá só, verá que seu problema é o mesmo de muitos outros, porém em união encontrará mais facilmente as soluções para seus problemas.

Porque outras pandemias poderão vir para atrapalhar o carnaval. Como também tempestades, blackouts e etc. Quem tiver mais informação, maiores recursos, mais parcerias, poderá se antecipar as crises e sofrer menos ou não sofrer nada. Essa é uma das vantagens do associativismo. Como diz o ditado: juntos somos mais fortes. Lunas de Carvalho Costa – Produtor Cultural