CONFERÊNCIAS: Possibilidades de organização da classe trabalhadora? Ou apenas cumprimento de agenda?

Ano de conferência é uma agonia só. Todo mundo voando contra o tempo para dar conta de cumprir as datas e fazer acontecer dentro do prazo uma instancia tão importante do controle social. O problema é que a grande maioria dos/das participantes nem sabem o que vão fazer lá, e o mais engraçado disso tudo é que sempre querem que eles/elas participem e sintam-se pertencentes desse processo, isso no curto espaço de tempo entre os momentos preparatórios até o dia da conferência.

As conferências precisam ser espaços fortemente politizados, coisa que não são, apesar das aparências. É notória aquela visão que sempre gira em torno da reivindicação, da garantia de direitos enquanto demandas submetidas a concessões. De onde mesmo? Vamos refletir: por vezes a paridade é ilegítima o que acaba enfraquecendo a luta coletiva. Tem gente no assento certo, mas com o pensamento errado, dizendo-se lutar pela “participação popular” e a “garantia de direitos”, e no fim das contas servindo ao andar de cima. É preciso lutar pelo “poder popular” cotidianamente e não só em um termo utilizado nos textos de divulgação das conferências mas ser debatido e construído com o povo.

Não é só “pautar” para que se efetive, apenas como uma reivindicação. Um primeiro passo para concretizá-lo é compreendê-lo como produção de capacidade organizativa da classe trabalhadora. Olha aí um termo que nunca deveria sair do vocabulário de quem trabalha nas políticas públicas: “classe trabalhadora”, essa sim deve ser o horizonte das intervenções. Os/as representantes da gestão são trabalhadores/as assim como os/as usuários/as das políticas. Quando a organização é fortalecida e emana do povo não há divisão. Mas como pautar isso nas Conferências? O espaço já foi dividido na cabeça de muita gente e o clima de rivalidade sempre prevalece. Espaço este que deveria ser de construção conjunta, mas torna-se um ringue de lutas travadas e sem fim. E com toda essa situação quem perde? A classe trabalhadora que somos todos e todas nós.

Outro aspecto importante é lembrar que como tantos outros espaços, este é só mais um espaço de poder e decisão, e onde há disputa de poder, há presença do neoliberalismo e incentivo ao individualismo exacerbado. Por isso, sobre as Conferências, pergunto: além da linda construção de propostas cheias de ego e linguagem técnica, o que é feito após sua ocorrência? Para onde as deliberações e moções vão? Você cobra as propostas que você construiu? Você saberia dizer da última conferência que participou, quais propostas saíram do papel? Que medida o controle social tem poder em relação ao capital?

Esse texto convida você a refletir e atuar de forma mais propositiva.
É preciso buscar as possibilidades coletivas e cumprir essa agenda o ano todo, em toda e qualquer oportunidade de construir vínculo e fortalecer a participação popular e democrática. Nós temos enquanto classe trabalhadora esse papel em todas as instâncias do Controle Social e negar esse papel é caminhar em direção a despolitização e rejeitar a finalidade de transformação social.

Por Michelle Silvestre, Assistente Social, Militante Fundadora do Movimento Mulheres em Pauta e Associada AFABE